quarta-feira, outubro 29, 2003

A filosofia e talvez a educação, relativo a proposta de reforma curricular.

A filosofia e talvez a educação, relativo a proposta de reforma curricular.

Vou começar o texto com os chavões que se ouve nas palestras e entre os alunos do curso de filosofia: Vocês tem que entender que pro curso de matemática, física, química, biologia, e outros é auto-evidente a sua utilidade prática (lógico, quem é que não aplica o logaritimo no seu dia-a-dia, ou então, limite e derivada, classificaçao de polimeros - realmente, estou convencido). Já a filosofia não, ninguém nem sabe o que ela é, então quando os adolescentes deparam-se com ela ao chegar no ensino médio a vêem como algo estranho, uma viagem sem sentido, outros esforçam-se pra encontrar uma utilidade prática(reflexão existencial, algo que dê sentido pra vida, ou para o que fazem, buscar fundamento, auto-ajuda, religião sem deus, etc), outros ainda procuram ver o mercado como está para essa tal filosofia e como são vistos na sociedade os então "filósofos".

Outra dificuldade da filosofia em ter espaço ao discurso - já isso diz respeito a todos os outros cursos que são dados no ensino fundamental e médio; é o seguinte, na universidade os alunos tem um pouco mais de abertura para o discurso de: matemática, física, filosofia, história; porque pressupõe-se que muitos deles vão fazer o curso porque tem um certo interesse, mesmo que mínimo, mas já maior que o total desinteresse dos alunos do ensino fundamental e médio em aprender. No ensino fundamental e médio a educação, o aprender, está mais ligado com a aceitação social (dos colegas, ser bem visto pelos professores, pelos pais) e não propriamente com o ato de se situar no mundo (note-se nos meus discursos o quanto falo disso).

Depois dessa breve introdução de obviedades quero falar sobre essa reforma curricular, a saber, todos os cursos (exclusivamente as licenciaturas) a partir de 2005 devem implementar um novo curriculo que contemple 800 horas de disciplinas pedagógicas. Tendo em vista que atualmente o prática do ensino de filosofia é rídicula, são meia dúzia de aulas ministradas no colégio aplicação (dentro da UFSC) e um relatório a ser entregue. São 5 disciplinas no total de pedagógicas atualmente, já o novo currículo pretende 400 horas de estágio (nossa), contra 72 horas de atualmente. Não quero me ater a dados técnicos, mesmo porque não quero ser chato.

Não tenho problemas com isso, por considerar a pedagogia extremamente necessária e importante para a se construir realmente um saber (notem como sou construtivista - teoricamente), tenho uma certa dificuldade é com a discussão, pois penso que é impossível fazer uma proposta curricular sem ter em vista qual seria o objetivo da educação (no caso da filosofia só no ensino médio), pois dependendo do objetivo é que podemos pensar na formação dos professores. Ex: se o objetivo da educação for situar o aluno secundarista na história das idéias filósoficas visando uma maior compreensão das suas próprias idéias dentro do contexto do todo das idéias, então o objetivo seria o de motivar o aluno nesse ato de se compreender ligado a toda a história, a ver-se na história, a pensar com mais delicadeza em questões como "pensamento próprio", a pensar na relação sociedade, história e indivíduos.

Se o objetivo da escola é discutir questões éticas, que só se fala nisso atualmente, a filosofia nesse sentido não tem muito a contribuir, a não ser questionar as formulaçoes éticas, problematizar as bases, propostas temos a dos pensadores: Kant, Nietzsche, Aristóteles, ..., mas é mais uma fé do que propriamente uma formulação teórica que DEVE ser aceita universalmente tendo em vista a força dos seus argumentos. O que a escola faz é não dar bola pros objetivos, quais os objetivos, qual o modelo de ser humano que se visa ao educar um aluno, o que se está querendo com isso, o que o projeto político pedagógico recomenda.

Cursos como história, geografia, biologia, são ótimos pra situar o aluno na história, bom os cursos como matemática, física, química, esses cursos eram pra ser dados no enfoque histórico, porque é interessante ver os logaritimos, as matrizes, o calculo vetorial, não estou aqui dizendo que isso seja menos ou mais importante (o que se faz é qualificar um saber frente a outro dado a sua utilidade prática), o que estou querendo dizer é que, segundo meu modo de ver, o ensino fundamental e médio tem a obrigação de situar o aluno na história do mundo, seja das idéias e fórmulas matemáticas, físicas, seja das idéias filosóficas, históricas, tudo isso faz com que as crianças e os adolescentes sintam-se pertencidos ao grupos dos seres humanos, brasileiros, latino-americanos, esse sentimento de pertença liga-se diretamente a uma cidadania concreta e madura, liga-se também com um sentimento de valorização do conhecimento, isso eu considero fantástico e isso é o que ME motiva a estudar e a querer aprender.

Eu sinto como é díficil aprender, por exemplo, na filosofia o pensamento contemporâneo, a lógica moderna, isso é tudo muito difícil, sem um contexto histórico bem construido as coisas parecem não ter muito sentido, fica tudo flutuando no mundo das idéias da minha cabeça e acabo nunca construindo realmente um saber, ou seja, pensando no saber como o fruto do conhecimento de um povo, de uma nação, isso tem uma fundamental importância para a construção de uma identidade nacional a partir da escola, e também eu vejo isso como uma tarefa que dá uma motivação as crianças, poxa estar conhecendo a própria história, se situar, entender o contexto que me envolve, imagina que interessante uma educação que privilegie isso. Gostaria de que outros professores (José, por exemplo) pudessem opinar, eu gostaria de discutir isso.