quinta-feira, dezembro 11, 2003

A educação como prática que vise questionar o sistema econômico?

A educação como prática que vise questionar o sistema econômico?

Apesar de ser muito simpático a idéia de uma educação que realmente coloque a criança, adolescente em contato com a história das idéias, para a partir da situação (perceber-se situado num contexto histórico) poder ler o mundo e aí sim se rebelar talvez contra ele ou então aceitar tudo que o mundo oferecer e agradecer a deus por tudo ser assim do jeito como está. Tendo um pouco de medo ao pensar que estarei, ao dar aulas, lutando contra toda uma lógica de um sistema econômico-político que determina a vida dessas crianças, como fazer isso? Como lutar contra os programas de televisão prazerosos, as músicas, contra a galerinha, enfim contra tudo que dá prazer a essas(es) crianças/adolescentes? Não sei bem como farei isso.

Dizer que o sistema é demoníaco e que acabará com a vida deles não funcionará, dizer que as pessoas pobres do mundo dependem da consciência deles, não adiantará, mostrar como a lógica desse sistema econômico parece influir em todas as relações humanas parece ser um bom caminho. Engraçado que no contexto atual para entender-se no mundo é necessário o conhecimento além das disciplinas da escola, uma noção boa de econômia. A econômia alcançou um grau tão alto de abstração(digo isso pensando no caso do câmbio flutuante, inflação, deflação, superavit primário, dinheiro virtual, notas circulando sem o equivalente em lastro nos cofres de bancos...) que carece de uma sutileza na investigação muito grande, creio também que a crítica que Marx faz a econômia política no Capital ainda é insuperável, e serve e muito para ajudar a ler nosso contexto atual.

Como se cria consciência em alguém, creio que não se faça isso, se ajuda a desenvolvê-la. E como se faria isso com crianças e adolescentes que se movem basicamente pelo princípio do prazer a curto prazo. É como pensar o seguinte: "não alimentarei a criança com tais alimentos, porque ela não gosta, e se ela não gosta é melhor não forçar...", nesse sentido a criança aprenderá que o que importa não são os benefícios alcançados a longo prazo e sim os de curto alcance. Não devemos forçar a criança a fazer nada que ela não queira fazer, bom a criança não quererá fazer nenhum tipo de atividade que envolva esforço, sacrifício, então fará apenas o que 'gosta', a questão parece ser que a criança não gosta de nada intrinsecamente, ela apenas se move pelo princípio básico do prazer, a atividade que gerar mais disso será a escolhida, e então atividades menos prazerosas como a leitura, reflexão, crítica ficariam de lado.

É esse o adolescente que está nas escolas, foi acustumado a ter prazeres por meios muito simples e não deseja mais realizar esforços para obter seu prazer. Como despertar nesse cidadão a consciência crítica, a importância de uma reflexão profunda sobre o nosso modo de vida atual? Recorrer a argumentos românticos, religiosos? Apelar para a importância do ser humano se situar no mundo e ser autonomo em relação às suas decisões? Parece que lutar na escola para que os estudantes queiram algo diferente do que nos impõe um modelo político-econômico é difícil, sofrido, diria até. Que prazer pode haver para um ser humano nessas condições (do prazer simples, rápido, instatanêo) em querer se situar no mundo, ou seja, entender-se a si mesmo e aos outros, entender o mundo no qual vive, age, sente; será que isso poderá um dia ser mais importante para um adolescente do que ter um prazer rápido e fácil como ver um filme, comer uma comida deliciosa, transar, ouvir uma música agradável, trocar uma idéia com um amigo(a)...

Talvez não precise haver essa oposição, mas que haja então uma reflexão sobre a importância da responsabilidade das escolhas que se faz no mundo, sobre a necessidade de se entender para poder se sentir vivo, para não apenas assinar embaixo daquilo que já foi feito, mas verdadeiramente atuar de formar séria, crítica. Sem uma boa compreensão daquilo que aconrece é impossível haver um crítica bem feita, uma prática realmente libertadora, haverá sim reprodução alienada do mesmo com fantasia de mudança. Daí a necessidade da investigação minunciosa, do rigor intelectual, de aguçãr sempre mais a curiosidade, de procurar as bases de onde decorrem os prinpíos mais gerais.

A complexidade do mundo só aumenta, a quantidade de informação que se tem também, digamos até que o conhecimento aumenta também ( se é que as produções acadêmicas de papers visando altos níveis em cnpq seriam conhecimentos novos produzidos) a capacidade de ter-se visões gerais cada vez mais diminui, a exigência de rigor intelectual só cresce, o prazer parecer diminuir cada vez mais com a especializações absurdas e tudo isso impulsiona somente a vontade de não-saber. Os cursos técnicos só aumentam e os cursos teóricos são deixados de lado, por especializarem-se demais, aprofundarem-se muito e perderem de vista o mundo concreto dos homens mortais. Diante desse quadro, os adolescentes preferem fugir, eles que só queriam ouvir um som, sair com a gata(o), bater um rango, curtir uma praia, precisam de se situar no mundo, pois é uma exigência do mundo atual.

Tudo bem senão se situarem, com os seus pais ocorreu o mesmo, então não tem porque se preocuparem com isso, pois vêem que os seus pais mesmo não sabendo de uma porção de coisas, conseguem se virar, ganhar sua graninha, tocar a sua vida, o problema que se impõe é a exigência de que se tenha responsabilidade coletiva, mundial. Para isso é necessário que a educação seja uma peça na construção das consciências, se é que se pretende algo mais, algo mais além do que suas próprias decisçoes particulares. A filosofia pode contribuir nesse debate mostrando as implicações das escolhas, não só a filosofia, mas a história ao longo das épocas pode ajudar a remontar a força das decisões humanas, as ciências... Não sei se será possível lutar contra algo que parece tão abstrato e geral que impõe-se em todos os âmbitos da nossa vida, a economia tomou conta de tudo, por exemplo: da nossa escola pro mercado trabalho que dê mais dinheiro e determinada pelo próprio mercado (OMC). Queria poder ser mais forte quanto aos meus sonhos, mas percebo que ser livre e assumir as responsabilidades por isso é algo muito pesado e que um indíviduo apenas não conseguirá.