sábado, maio 31, 2003

Perda da sensibilidade, quando isso começa há como controlar ?

Será que se eu ler uma poesia do Vinicius ou for numa maternidade ver um bebê ou ver casais chorando de maos dadas por ai ou um filme piegas, não sei, acho que essa racionalidade toda usada nos textos anteriores como instrumento para destruir qualquer fundamentação racional, acabou por matar de vez a sensibilidade, estou não-sentindo mais as coisas, nem empolgaçao de mais, nem tristeza, nem angustia, nem alegria, até o riso parece meio calculado - sem graça. Não quero fazer monologos pra pessoas ficarem se identificando e dizendo que "eu tambem ja senti isso", queria apenas expressar esse sentimento(ou nao sentimento) que parece ser decorrente da reflexao desmedida.

Dizem que os poetas são sensíveis, tive a oportunidade de ver uma professora declamar uma poesia e tive a oportunidade de não sentir nada, não consigo pegar a beleza da arte, não capto, isso ultrapassa a minha razao, isso pode dar argumento pra qualquer poeta calculista enxer de argumentos piegas por demais, creio que minha razao limita-se ao ato de pensar, refletir e não contempla o universo da sensibilidade provinda da poesia, da musica. A música ao menos cria o ambiente propício a reflexão, é um meio. Até mesmo a reflexão exagerada quebra um pouco a sensibilidade que a propria reflexao carrega.

Quero voltar a sentir, quero passar a semana voltado pra isso, eu quero meus sentimentos de volta, se não vou largar tudo e vou ser matemático e nunca mais vou falar de liberdade e espontaneidade, vou assumir minha natureza de robô, estava tentando ser um pseudo-filosofo cibernetico mas desse jeito, sem sentir, não vai dar.

Se fala tanto em poesia e música, devemos ouvir mais música e ler mais poesia, tá e daí ? A pessoa nasceu num ambiente técnico-utilitário, e vem querer fugir do seu berço, dizendo-se poeta ou artista ok, não parece um pouco negar um pedaço da sua existencia ? Não sei estou só especulando, porque eu não sinto nada quando alguem me declama uma poesia ou me toca uma música, eu olho com aquela cara sem graça e fico a pensar "sabe-se lá o que essas palavras querem dizer, será que eu tenho que falar algo ? será que é o caso de dizer algo pra mostrar a sintonia ? ou será que eu apenas faço um sorriso e fico tentando racionalizar o momento como estou fazendo agora, típico de um brasileiro com fortes influencias pragmaticas estadunidenses...

Será uma falha genética, erro no dna, cultura ?, o meu subconsciente não foi projetado para contemplação artistica, puramente estética do mundo, tudo bem assumo que nessa hora me deixei levar por essas correntes que dominam, ou ao menos andam juntos de nós toda hora, é só fechar os olhinhos que voce se justifica por qualquer dessas teorias de massas, onde a sua liberdade é apenas um desvio da estatística, apenas um fator indeterminado que as ciencias nçao contam... Então relativo a poesia e arte em geral me deixei levar, Sócrates ao invés de proclamar conhece-te a ti mesmo, poderia ter falado, contempla a estética a tua volta, talvez o conhecer pra ele seja uma experiencia estética tambem, estou querendo salva-lo das criticas de Nietzsche quanto ao racionalismo socrático ao dizer que o poeta era menos sábio que ele, Sócrates, pois nao admitia que nada sabia... dizia que sabia por intuiçao.

Talvez a vontade de me salvar sendo um pseudo-filosofo socrático atingiu seu auge, justamente quando eu estava começando a sonhar comigo mesmo tendo discussoes filosoficas, parece que estou regredindo, fui rápido de mais, queimei minhas asas, vamos lá de novo... poesia, música, arte, um dia talvez eu me entenda com voces até lá espero curioso...