quinta-feira, junho 05, 2003

Adolescentes: uma análise de um ex-adolescente e que tem muito de adolescente ainda e que talvez nunca vá se desvencilhar por completo dessa época porque também fez parte na história.

Começo esse texto mais por assombro do que seja um adolescente hoje em dia. O que é afinal ser ou pertencer a essa categoria adolescente? Quando a criança chega na época dos seus 12 ou 11 anos já começa a reivindicar um certo direito a ser chamada de adolescente ou pré-adolescente, mas sinceramente não sei qual é o gosto disso, de saber que está se envelhecendo e que um dia vai-se acabar no caixão.

Queria mesmo falar de como eu vejo o ser adolescente hoje em dia, eu sei que é muita pretensão fazer isso, mas e daí eu sou pretensioso por natureza. Adolescente hoje é o ser humano numa faixa etária de 13 até seus 17/18 anos que fica nessa fase de transição entre a criança e o jovem. Não se situa entre os dois, vai buscar elementos pra tentar se encontrar no mundo percebe que já não é mais o bebê e que tem responsabilidades, mas ao mesmo tempo quer ainda ganhar presente de natal e ovo de páscoa mesmo se dizendo ateu, quer também mandar todo mundo a merda e dizer “foda-se” pra quem vier à frente só pra se auto-afirmar, em nome de uma tal “sinceridade” se fala o que vem a mente, em nome da formosa frase de livros de auto-ajuda e típica da psicologia atual “não se reprima, fale o que tiver que falar, não guarde nada pois isso pode gerar traumas”, em nome disso se agüenta de tudo. Não se com isso está se criando cidadãos ou monstrinhos, dizia Thomas Hobbes que se deixar as pessoas livres e iguais elas vão acabar se matando e por isso era necessário criar o Estado para preservar a vida, bom se tolerarmos esse tipo de liberdade vomitada pelos adolescentes – provinda de livros de auto-ajuda; de se fazer o que quiser, então aí realmente vamos ter que considerar a possibilidade de um governo totalitário, em nome da vida. Está posta a escolha, ser livre e ter consciência dos direitos E DEVERES ou então tolerar um governo totalitário para ter que fazer com que as pessoas sejam morais necessariamente, ou seja, para proteger as pessoas umas das outras.

Os adolescentes aprendem muito rápido a usar dos discursos para se auto-afirmar, para criticar a sociedade e o mundo a sua volta, os colegas que não os aceitam por serem diferentes dos demais, todo mundo quer ser diferente, ninguém quer ser mais um ordinário – lembram-se da loirinha do filme beleza americana? Todo mundo entra nas criticas adolescentes: seja sociedade, religião, família, até alguns amigos; mas a fragilidade desses discursos aparentemente super fortes e lógicos se mostra pela motivação que leva o adolescente a proferir certas afirmações: rejeição social, não reconhecimento das potencialidades, desprezo do meio de amigos da mesma idade, incompreensão por parte dos pais, sem um verdadeiro mestre ou mestra para guia-los; e por isso se entregam ao discurso racional para cobrir uma capa meramente emocional/sentimental. Diz a minha irmã que entre os adolescentes concorre-se para ver quem é mais “sofrido”: meus pais se separaram, meus pais não me dão atenção, as pessoas me acham feio, burro, estúpido, inútil, tenho dificuldade de relacionamento, portanto sou excluído do meio, e mais um milhão de situações problemáticas.De todas essas situações problemáticas esses adolescentes se refugiam nas droguinhas, bebedeiras, baseadinhos, depressões, sexo (muito sexo, cada vez mais novos). Existe a guerra entre os que se adaptam e os que não, um grupo critica o outro: seus playboys, seus estranhos, seus sujos, seus bonitinhos, seus horrorosos, suas patys, suas poser, e mil um xingamentos idiotas. Vejo essas revoltas como a mesma coisa: tentativa de se afirmar pela crítica ao outro grupo, parece que se todo mundo é uma coisa só não tem graça viver, precisa-se criar um rebanho isolado onde você possa se identificar e a partir daí se localizar nesse mundo sem sentido.

Não sei se isso é bom ou ruim, só sei que isso é estranho pra quem está de fora desse universo adolescente e fica observando como as coisas vão acontecendo, no fundo existe um pensamento igual que permeia todos os adolescentes que apesar de tentarem ser originais não percebem que isso não existe, mas tentar também não custa nada...

Admiro os adolescentes que se preocupam em formar-se sozinhos, ler por conta própria, preocupam-se em formar consciência política, adquirir cidadania, e que são tranqüilos com relação a criar discursos pra tentar criar uma imagem daquilo que não é o real. Legal também aqueles que conseguem fazer as coisas não pra agradar os pais, ou mostrar superioridade diante dos amigos, ou ganhar elogios idiotas de professores, mas sim porque realmente amam a si mesmo a tal ponto de querer educar-se, formar-se como ser humano independente do mundo, isso sim talvez seja o maior “foda-se” pro mundo, mas chega nessa hora todo mundo quer um elogio motivador e isso meio que vai educando a uma vida de elogios que vira uma doença terrível. Talvez só a coerência entre discursos belos e ações na mesma proporção já seja um grande feito...