quarta-feira, junho 18, 2003

Só há vida dentro dos polos ligados por dutos e por que morreu a liberdade e a espontaneidade, o inesperado era esperado ?

Será que viver é andar de dutos em dutos, andei pensando nisso ontem por conversar com uma amiga, fiquei pensando do razao pela qual as pessoas nao se falam, ninguem fica trocando idéia pelas ruas por nada, pelo simples prazer de conhecer alguem, de invadir o mundo de outra pessoa, tanto que as pessoas ficam até meio assustadas quando alguem puxa algum tipo de conversaçao, seja no onibus, seja na rua, a pessoa atingida leva um susto, até ela se situar e pensar "oh tem algum ser humano fora dos meus nucleos de ralaçoes que tenta manter um contato comigo, o que eu faço ? respondo ? mas se for um louco, ou alguem querendo abusar da minha generosidade ? melhor deixar pra lá..."

Por causa desse tipo de pensamento que sao necessários criar pólos onde as pessoas possam se conhecer e falar umas com as outras, é necessário inventar uma causa, um motivo para fazer as pessoas se abrirem, se exporem sem ter medo de nada, percebi isso porque certa vez já tentei coordenar um certo grupo de jovens e percebi lá como as pessoas iam aos poucos adiquirindo afinidade umas com as outras, sairam varios namoros, "fiques", relaçoes de amizade, e percebo como é importante esses pólos, mas é ao mesmo tempo ridiculo pois as pessoas nao precisam disso para estabelecer relaçoes umas com as outras...

Estou vivendo a vida dentro do meu tubinho, quanto menos grupinhos eu frequento menores sao as possibilidade que um dia eu venha a casar, ter amigos, sei lá, as relaçoes estão meio condicionadas por esses pólos, tanto que parece ser muito mais simples conhecer alguem mediado algum ou alguma conhecido/a do que "do nada", na rua, imagina que espontaneo conhecer alguem na rua, casar, ter uma porçao de filhos, por nada, sem causa nenhuma, acho que essa vida artificial que vai se criando dá uma certa segurança para as pessoas, todos andam com medo de tudo e precisam de polos que lhes garanta uma certa segurança, talvez até uma falsa felicidade...

Até nisso perdemos a originalidade, a espontaneidade, tudo sutilmente entra nas nossas cabeças, o número de pessoas que casam com alguém do trabalho, alguém do mesmo partido politico, alguem da mesma crença religiosa, parece ser o atestado que os iguais se casam com os iguais, é um certo atestado que aceitamos manter relaçoes com os iguais. Isso soa a mim tão horrivel porque parece que me diz que eu necessito fazer um calculo ou me adaptar ou criar uma imagem de mim para que eu possa sonhar de um dia ter uma vida com amiguinhos e amiguinhas, está tudo tão determinadinho que achamos bom que as coisas sejam assim, estabelece padroes de convivencia que não pode-se romper, e isso cada vez mais atesta a ausencia de liberdade nas relaçoes, na vida humana.

Quando era um pouco mais novo tinha comigo a seguinte crença muito forte de que não se escolhe quem se é, se escolhe que tipo de influencias se quer pra si e se vive de acordo com isso, se é determinado por isso. Acho que estava de alguma forma correto.

Vou me alongar um pouco mais nesse blog porque quero ainda falar na liberdade que liga-se a essa situaçao, alias está sempre ligada.

Minha mãe conversando comigo ontem ia começar a falar da liberdade, de que todos somos livres pra pecar, nao que estivesse num momento doutrinario, mas ela queria expressar um pensamento, mas como percebi que era o senso comum que iria professar algo por meio dela achei que talvez ela nao fosse ficar chatiada se eu intervisse. Um amigo meu até estava falando tambem sobre isso e parei pra pensar que realmente não somos livres coisa nenhuma: nao sou livre pra falar grego, nem egipcio, nem pra pensar como um medieval, nao consigo fazer essas coisas, meu proprio organismo vai se especializando de uma certa maneira que certas coisas pra mim a partir de um momento tornam-se impossiveis de fazer, e alguem vem me dizer que eu sou livre ?

Sou livre dentro de limites muito bem postos, sempre me incomodou a idéia de ver essas pesquisas do ibope medindo como iria ser a proxima campanha, quem estava na frente, tomando como refenrencia nem um por centro da populaçao total, será que somos mesmo livres, pois nem as pesquisas estatisticas esperam que vamos votar em branco, ou anular o voto, ou sei la, nao esperam o inesperado, por que ? Por que ele nao existe? Por que no final das contas somos um grande grupo que pensamos iguais ? É Ana, eles realmente previam que nós iríamos nos revoltar! Somos o senso comum falante, pensante, concordante, sentimos como o senso comum nos diz, e não fujimos a regra.

Se fosse pra ser diferente teria que ser desde sempre e não apenas com relaçao a um aspecto, o da consciencia - a consciencia hiperatrofiada segundo Dostoiévski, mas teria que ser desde a origem, desde do esperma revolucionario até o ovulo que espera pela chama e propicia o local onde vai se começar a revoluçao. Não sou comunista e não gosto de rótulos, mas penso que é preciso romper com o sistema, quero romper com esse germe da reproduçao do senso comum, quero destruir o senso comum, acho que vou acabar me destruindo junto, mas e daí, Jesus diria que: "ninguém tem maior amor aos seus amigos do que aquele que dá a vida por eles", então vale a pena, o sonho do martírio realmente me agrada, acho que acaba sendo uma das únicas expectativas de uma vida de robô, se houver outras me digam.