quinta-feira, junho 19, 2003

A revolta é necessária ! Não deixe o mercado tornar-se uma entidade metafísica.

Não sei nem se dá pra designar esse termo, acho que nem dá, porque aquilo que é colocado na condiçao de metafisica é algo que fica para alem do tempo, é eterno, faz parte da essencia de algo, é imutavel, mas é porque hoje em dia se vive numa condiçao estranha que é essa loucura do mercado pra todo la, trocamos as verdades biblicas pelas verdades empresariais, trocamos o evangelho por nuno cobra, lair ribeiro, paulo coelho e cia, ou seja, auto ajuda, autores que pregam a motivaçao empresarial sem contar com as pessoas que misturam tudo isso a mistica oriental, o orientalismo está na moda tambem no mundo do senso comum, todos andam com camisas de deusas hindus.

Tá tudo bem, já conhecemos o mundo estranho do senso comum, mas há algo de perigoso e sutil que anda por tras do senso comum, é o demonio, é um espirito de morte, se eu ainda estivesse fazendo teologia diria que são os sinais de morte... É o espirito do mercado, existe um amor muito grande pelas empresas e por tudo que elas produzem, logico sabemos que alguem necessita produzir para que haja os materiais basicos para a sobrevivencia humana, objetos como computador pentium IV, microprocessador com vinte e oito funçoes, bolas de coro da malasia, lancha voadora, transatlantico, bazucas, fuzis ar-15, microondas, todos equipamentos essenciais pra manutençao da vida, logico, em nome desses materiais precisamos de empresas, a partir de empresas precisamos de trabalhadores responsaveis, eficientes, eficazes, pessoas que dêem o suor do seu rosto pra manter a grande familia cujo pai é o dono e os trabalhadores sao os filhinhos.

Sim temos a empresa, que graça divina, precisamos competir acho que porque na natureza todos competem entao vamos competir tambem, mas a nossa competiçao ao inves de ser por comida, por abrigo, por procriaçao é um pouco mais importante é a briga pelo primeiro lugar nas vendas, pelo premio empresa preocupada com o meio ambiente e com os funcionarios, brigas por maior investidores e clientes, sao brigas como voces percebem "muito mais importantes" do que a briga pela pura sobrevivencia natural, as vezes é bom lembrar que somos animais, apesar de toda a artificialidade da vida que ciamos, mas tudo bem vamos lá.

Em nome da famosa empresa que vai nos trazer beneficios incalculaveis aceitamos o sistema em que vivemos, aceitamos que o maximo que podemos fazer é pedir pelo amor de Deus que essas empresas nao se esqueçam dos pobres, que de vez enquando elas deem uma casinha pro gugu dar pra alguma familia pobre e todos nós pensarmos: "poxa como existe gente boa nesse país", ou entao imploramso que essas empresas nao distruam o meio ambiente tao rapidamente porque existem pessoas que nao podem pagar um plano de saude pra continuar vivo nesse planeta.

Num planeta onde a agua nao é de graça, quem nao tem um plano de saude daqui a pouco nem respirar pode mais, só quem tiver dinheiro vai ter acesso ao oxigenio, "pessoal eu garanto pra voces esses beneficios em nome do trabalho duro - diz o empresario". Pessoal voces vao poder estudar, crescer na empresa, saber fazer varias coisas, nao só apertar o parafuso, mas alem disso vao saber atender um telefone, vao aprender a manusear o micro, aprender palavras em ingles, nossa quanta coisa né ? As empresas realmente estao preocupadas com os seus funcionarios, minha professora de didatica diz que alguns trabalhadores tem a formaçao equivalente dentro da empresa a um universitário, realmente é um exemplo, vou até citar um texto famoso que corre por ai:

Se os Tubarões Fossem Homens
Bertold Brecht

Se os tubarões fossem homens, eles seriam mais gentís com os peixes pequenos.

Se os tubarões fossem homens, eles fariam construir resistentes caixas do mar, para os peixes pequenos com todos os tipos de alimentos dentro, tanto vegetais, quanto animais.

Eles cuidariam para que as caixas tivessem água sempre renovada e adotariam todas as providências sanitárias cabíveis se por exemplo um peixinho ferisse a barbatana, imediatamente ele faria uma atadura a fim de que não moressem antes do tempo.

Para que os peixinhos não ficassem tristonhos, eles dariam cá e lá uma festa aquática, pois os peixes alegres tem gosto melhor que os tristonhos.

Naturalmente também haveria escolas nas grandes caixas, nessas aulas os peixinhos aprenderiam como nadar para a guela dos tubarões.

Eles aprenderiam, por exemplo a usar a geografia, a fim de encontrar os grandes tubarões, deitados preguiçosamente por aí. Aula principal seria naturalmente a formação moral dos peixinhos.

Eles seriam ensinados de que o ato mais grandioso e mais belo é o sacrifício alegre de um peixinho, e que todos eles deveriam acreditar nos tubarões, sobretudo quando esses dizem que velam pelo belo futuro dos peixinhos.

Se encucaria nos peixinhos que esse futuro só estaria garantido se aprendessem a obediência.

Antes de tudo os peixinhos deveriam guardar-se antes de qualquer inclinação baixa, materialista, egoísta e marxista. E denunciaria imediatamente os tubarões se qualquer deles manifestasse essas inclinações.

Se os tubarões fossem homens, eles naturalmente fariam guerra entre si a fim de conquistar caixas de peixes e peixinhos estrangeiros.

As guerras seriam conduzidas pelos seus próprios peixinhos. Eles ensinariam os peixinhos que, entre os peixinhos e outros tubarões existem gigantescas diferenças. Eles anunciariam que os peixinhos são reconhecidamente mudos e calam nas mais diferentes línguas, sendo assim impossível que entendam um ao outro.

Cada peixinho que na guerra matasse alguns peixinhos inimigos da outra língua silenciosos, seria condecorado com uma pequena ordem das algas e receberia o título de herói.

Se os tubarões fossem homens, haveria entre eles naturalmente também uma arte, haveria belos quadros, nos quais os dentes dos tubarões seriam pintados em vistosas cores e suas guelas seriam representadas como inocentes parques de recreio, nas quais se poderia brincar magnificamente.

Os teatros do fundo do mar mostrariam como os valorosos peixinhos nadam entusiasmados para as guelas dos tubarões.

A música seria tão bela, tão bela, que os peixinhos sob seus acordes e a orquestra na frente, entrariam em massa para as guelas dos tubarões sonhadores e possuídos pelos mais agradáveis pensamentos.

Também haveria uma religião ali.

Se os tubarões fossem homens, eles ensinariam essa religião. E só na barriga dos tubarões é que começaria verdadeiramente a vida.

Ademais, se os tubarões fossem homens, também acabaria a igualdade que hoje existe entre os peixinhos, alguns deles obteriam cargos e seriam postos acima dos outros.

Os que fossem um pouquinho maiores poderiam inclusive comer os menores, isso só seria agradável aos tubarões, pois eles mesmos obteriam assim mais constantemente maiores bocados para devorar. E os peixinhos maiores que deteriam os cargos valeriam pela ordem entre os peixinhos para que estes chegassem a ser, professores, oficiais, engenheiros da construção de caixas e assim por diante.

Curto e grosso, só então haveria civilização no mar, se os tubarões fossem homens.

Parabens empresas voces me conquistaram, alguem contrata estudantes de filosofia ? Eu prometo pregar a ideologia empresarial basiada nos classicos da literatura filosofica, imagina o quanto ainda eu nao posso fazer com a cabeça das pessoas, "o céu é o limite". Precisamos de terroristas, já sei aonde atacar, nas bolsas de valores, vamos travar o sistema, vamos quebrar o tempo, vamos continuar com essa vontade, essa, mantenhamos a chama da revolta acesa. A menos que voce goste das verdades do novo milenio: "Ame o cliente mais que a si mesmo", "ei tire o s da crise, crie". Só temos duas opções: ser um robô ou lutae... O unico perigo de voce lutar é voce ser livre, lutar pela sua real liberdade ao contrário da liberdade pra escolher pra qual balada eu vou ir, que refrigerante eu compro, que canal eu assisto, a menos que essa vida cretina agrade.