sexta-feira, novembro 28, 2003

Comecei pensando na escola e terminei numa idéia que vem me incomodando - que aliás pode ser pensada em termos de educação.(Primeira publicação filosó

Comecei pensando na escola e terminei numa idéia que vem me incomodando - que aliás pode ser pensada em termos de educação.(Primeira publicação filosófica metafísica).


A escola como espaço de onde pode brotar a subjetividade humana, saindo de uma condição de apenas reprodutor da cultura, e tomando as responsabilidades por suas próprias reflexões, obviamente não há como não reproduzir, o problema parece ser quando se é apenas reprodutor inconsciente disso, não entender a situação histórica da própria vida em sociedade e individual parece levar-nos a adaptar-nos apenas as situações postas. Esse tipo de atitude é anti-reflexiva, pois visa concretizar o real, o quotidiano, concretizar no sentido de petrificar, dizer que 'é' assim e não irá mudar, comparativamente seria como olhar para uma tal pessoa e querer dizer o que ela é analisando um certo pedaço da vida dessa pessoa e fechando a análise sobre ela dizer: 'ah essa pessoa É isso'; Esse 'É' significa paralisar a pessoa, definir a sua natureza humana imutável, lógico que quem conhece a história de uma tal pessoa sabe que muito das coisas que essa pessoa faz é produto do seu passado e muita reprodução da cultura vigente, e então muita coisa é repetição, mas há sempre o espaço, mesmo que mínimo para o novo vir a ser, o espaço onde a pessoa se possibilita não ser somente aquilo que os outros a definem, mas sim ela escolher moldar-se.

Os professores ao chamarem os alunos para a 'discussão inútil', como é chamada por professores em geral dos cursos de exatas entre outros, fazem com que eles se instiguem a pensar, a se problematizar, a tomar como suas as questões que andam por aí incomodando a sociedade. Chamam para o posicionamento, 'como eu penso tal questão', 'que eu acho de tal assunto', 'como faria com relação a isso', 'por que acontece isso deste jeito', 'eu posso ou devo fazer alguma coisa?'. Essas idiotices que são contra a lógica econômica, porque são improdutivas, são os momentos onde as crianças aprendem a relacionarem-se com um todo onde estão submersos e não vêem, não percebem a cultura nas suas veias, sonhos, sentimentos, conceitos em geral. Quanto antes percebem, antes têm a possibilidade de assumir concretamente a sua realidade, cito Hegel: "É como uma necessidade; o indivíduo educa-se nesta atmosfera, não sabe de nenhuma outra. No entanto, não é simples educação e conseqüência da educação; esta consciência é também desenvolvida pelo próprio indivíduo, não lhe é ensinada: o indivíduo existe nesta substância(...) Nenhum indivíduo pode ultrapassar tal substância; pode, sem dúvida, distinguir-se de outros indivíduos singulares, mas não do espírito do povo(...) Os de maior talento são os que conhecem o espírito do povo e por ele sabem guiar-se. São os grandes homens de um povo que guiam o povo e por ele sabem-se guiar. Por conseguinte, para nós, as individualidades desvanecem-se e surgem-nos apenas como as que põe na realidade efetiva o que o espírito do povo pretende(...) Os indivíduos desaparecem perante o substancial universal, e este forma os indivíduos de que necessita para o seu fim. Mas os indivíduos não impedem que aconteça o que tem de acontecer" (Razão na História p57).

Outra parte muito interessante desse texto e que cabe a essa discussão: "(...) A propósito destas determinações, deve observar-se que, muitas vezes, se faz uma distinção entre o que o homem interiormente é e os seus atos. Na história, isso é falso; a série dos seus atos é o próprio homem. Imagina-se, decerto, que a intenção, o propósito, pode ser algo de excelente, mesmo quando os atos de nada valem. (...)A verdade é que o externo não é diferente do interno. Semelhantes sutilizas de distinções momentâneas não ocorrem na história. Os povos são o que são os seus atos. Os atos são o seu fim." (Hegel - Razão na História p62). É sempre o velho problema de onde encontra-se o indivíduo, sujeito que sente e age de tal maneira, dentro de uma totalidade de uma cultura, na verdade não há essa separação, o indivíduo é essa cultura e ela é o indivíduo e os dois se determinam mutuamente para a vida inteira, cito Hegel agora a meu modo, a História é sempre igual e sempre diferente, se fosse somente igual, já não seria História porque seria sempre o mesmo, na natureza é o eterno retorno do mesmo, por isso não há História natural, mas a História também não é só diferente, senão olharia para trás e já não se reconheceria por estar sempre em mudança.

Em tudo que escrevi até hoje sinto em grande parte que tenho uma veia hegeliana, falta-me muitos conhecimentos de história para enfim sentir-me como produto do espírito universal, para a partir daí poder quem sabe apontar para alguma coisa, que nunca será inteiramente nova, embora que seje um pouco diferente.

Mas com relação à escola, penso que o processo poderia ser esse, como já disse em outros textos, fazer o aluno compreender a história das idéias para daí em diante assumir sua identidade universal, reconhecer-se como membro desta humanidade ao invés de ficar achando que se autoproduziu, quem não crê que é fruto de uma cultura humana deve necessariamente acreditar que existam idéias inatas, ou que alguma deidade fora deste mundo estaria controlando o destino dos homens. A dificuldade do professor consiste em tentar fazer os alunos perceberem-se como fruto da totalidade, como fazer isso se eles são produto da idéia pós-moderna de exacerbação da idéia da individualidade, não conseguem ver todo algum, apenas partes que querem impor a totalidade. Esse desgarramento que existe é uma ilusão, Parmênides riria da pós-modernidade com seus elogios a diferença(todos somos diferentes - segundo a lógica se todos somos diferentes todos somos iguais), diria nos seus Ensinamentos sobre o ser, no seu poema acerca da natureza: "Que o ser não é engendrado, e também é imperecível:/com efeito, é um todo, imóvel, sem fim e sem começo./Nem outrora foi, nem será, porque é agora tudo de uma só vez,/uno, contínuo./ Que origem buscarás para ele?/ Como e onde teria crescido?/ Do não-ser, não te permito/ Dizê-lo nem pensá-lo: não é possível dizer nem pensar/ o que não é(...) E nem sequer do ser concederá a força da crença veraz/ que nasça algo diferente dele mesmo; por esta razão, nem o nascer/ nem o morrer lhe concedeu a Díke (justiça)(...)/ E como poderia existir o ser no futuro? E como poderia nascer?/ Se nasce, não é; e tampouco é, se é para ser no futuro./ E assim se apaga o nascer e desaparece o parecer.(...)/ Não existe não-ser que lhe impeça alcançar a plenitude/ Nem pode ser ora mais pleno, ora mais vazio porque é todo inteiro inviolável,/ igual a si mesmo em todas as partes(...)/ Todas as coisas são meros nomes/ dados pelas crenças dos mortais:/ nascer e parecer, ser e não ser,/ mudar de lugar e mudar da luminosa cor". O ser enquanto ser é uno, não perceber o ser como uno e achar que no mundo o que impera é a mudança é o caminho da opinião, o ser e o nada se equiparam, não há movimento, só ilusão. Estou fazendo uma leitura parmenidica de Hegel. Não perceber o espírito, o ser, em si mesmo e em tudo, é um erro dos sentidos.

Percebamos o Ser, o absoluto, o espírito do mundo que a tudo rege por nós, em nós e para nós, aceitemos que o devir nada é, senão a falta de rigor na observação. O ser é, o espírito como ser é aquele que não pode escolher algo que não seja a si mesmo, neste gesto de voltar-se para si infinito é que se dá todo o giro sobre si, o ser que se põe a frente de si e escolhe sempre a si mesmo, o ser está condenado a liberdade de só poder escolher a si mesmo e portanto ser inteiramente livre e inteiramente determinado. A ilusão do movimento de girar sobre si e ser sempre o mesmo.