sábado, maio 31, 2003

Será que alguem produz alguma coisa ?

Parece que o ser humano é mesmo um mero papagaio, bom isso já vai contra a natureza de "ser humano", estamos regredindo nesse sentido, nos frustrando, pois deixamos nossa humanidade pra ficarmos com a papagaice inconsciente. Lá estou eu de novo falando da essencia humana, agora esse papo de papagaio vamos ver a idiotice que vem, observem:

Camus disse, "voce primeiro se habituou a viver para depois começar a pensar", isso significa que, voce e eu, aceitamos premissas sabe-se lá de onde: dos nossos colegas de sala, dos pais, religiao, televisao, desenhos; premissas do tipo: "voce deve ir bem no colégio para ser um bom filho, se voce arruma a cama é porque ama os seus pais, se voce gosta dos seus amigos voce nao bate neles, quem nao vai bem na escola é burro, se voce nao conseguiu uma namorada é porque é feio, se voce nao amar o irmao vai pro inferno, se voce nao faz os deveres mamae fica triste e papai vai sair de casa e além disso a cuca vai te pegar..." E ai voce passou a infancia e adolescencia acreditando nisso, e quanto maior ficava mais premissas estranhas engolia: "se voce nao fizer sexo é porque é gay, voce precisa entrar na universidade se nao é burro ou é vagabundo, se voce nao trabalha é porque é irresponsavel, se voce nao mora sozinho é porque ainda é um "filho de papai"; disculpem o excesso de exemplo é porque eu quero fazer sentir na carne mesmo essas idiotices engolidas dia a dia, muitoooo mastigadas ainda, as 50 vezes como manda os nutricionistas, pra matar a fome de teorias e alimentar a alma, carrega-la de idiotices pra poder "viver em paz" ou no inferno pessoal.

Aí voce e eu, inventamos um dia de começar a pensar, ler livros, ver filmes, escutar musica erudita, e voce e eu estamos por aí conversando, citando os grandes mestres da literatura, os filosofos de renome, quando de repente alguma pessoa entra no meio da conversa e diz: "ei voces, aprendam a pensar por voces mesmos e parem de citar os outros", ai pensamos nós, "bom, a sociedade não é regida por teorias, por premissas, aquelas mesmas aceitas acima ?; então como é possivel alguem vir nos dizer que devemos viver por nós mesmos, se vivemos até agora a custas de teorias dos outros, premissas idiotas aceitas sem questionamento e reflexao, nos habituamos com essas coisas monstruosas, ai vem os dogmáticos que acham-se os libertadores do povo, dizer essas bobagens". Nessas horas prefiro ficar com a humildade e ter apenas a convicçao de no maximo sentir-me consciente das teorias que quero me propor a viver, e as que eu quero engolir, prefiro ficar com as citaçoes a achar que tudo é fruto da minha reflexao pessoal...

Lógico que ainda vou sentir muito de acordo com as premissas que vivi antes, por isso sempre volto a dizer que o ato de libertar-se é custoso, dolorido, porque demanda toda uma reestruturação psico-emocional, sei la, filosofica, de pensamento, é uma empresa gigantesca essa reformulaçao, mas é necessário se realmente o ser humano, ou eu, quero um dia ser movido pelas minhas leis, mesmo que sejam teorias dos outros, mas são os principios que eu aceitei racionalmente e vivencialmente e não uma falsa liberdade que me faça crer que ser livre é ser expressao do que a sociedade pensa sem ter consciencia disso, é a prisao inconsciente. Só falta daqui a pouco as pessoas começarem a achar que foram elas que criaram os conceitos de egocentrismo e alienaçao tao presentes no senso comum, só citei essas duas palavras porque ouço isso toda hora e achei bons exemplos, bom entao fiquem com o vazio do seu ser e aceite a condiçao de papagaio idiota consciente.

Vou escrever mais um parágrafo me refutando pra não ser totalmente pessimista a respeito disso, porque eu mesmo penso muito nisso e isso me incomoda de uma certa maneira, é porque eu tomo muito a sério a premissa que nada vem do nada, então fica dificil de conceber certas coisas, talvez uma análise histórica linguistica biologica tire qualquer peso das minhas costas e me deixe durmir tranquilo e satisfeito com minhas falsas verdades, saber que o ser humano mesmo antes quando não falava ao apontar pras coisas começou os grunhidos e a partir dessa a vontade de linguagem e comunicação foi mais forte e adaptou-se a realidade nova e a partir daí tudo foi se dando, acho que a partir de um vocabulário muito rudimentar se deu todo universo de palavras que temos, mas o interessante são as origens, a capacidade humana de adaptaçao, a vontade, com a influencia direta e forte do meio exigindo uma resposta, a vontade de inter-relaçao proporcionou toda uma gama de evolução linguistica que logo mais o ser humano começou a aprender a fixar as coisas, ou o aparelho biologico nosso foi se adaptando e exigindo a capacidade de memoria, retençao, e a partir daí reflexao e vamô embora, mas é algo tão complexo que não teria como pontuar, só se eu fosse contar em forma de mito ou fábula, mas quem disse que não poderia ser uma verdade ?

Realmente vou ter que ler mais 5.000 livros e depois volto aqui pra continuar esse texto, notaram o tamanho do emprendimento a que me arrisquei, mas muito dos primeiros parágrafos é necessário refletir, mesmo que no final caiamos na verdade de que somos apenas copiadores da natureza, criando meios artificiais e querendo renegar a mãe natureza, querendo não entender as coisas como processos e sim achando que a nossa grandiosíssima razão é a realmente a força criadora como diz a música dos racionais, talvez seja mesmo a força copiadora, e mla copiadora ! Se esse mundo artificial que criamos era uam tentativa de sentirmo-nos mais humanos, acho que a melancolia e angustia pessoal de cada um responde a essa pergunta... prefiro ser um urubu !

Perda da sensibilidade, quando isso começa há como controlar ?

Será que se eu ler uma poesia do Vinicius ou for numa maternidade ver um bebê ou ver casais chorando de maos dadas por ai ou um filme piegas, não sei, acho que essa racionalidade toda usada nos textos anteriores como instrumento para destruir qualquer fundamentação racional, acabou por matar de vez a sensibilidade, estou não-sentindo mais as coisas, nem empolgaçao de mais, nem tristeza, nem angustia, nem alegria, até o riso parece meio calculado - sem graça. Não quero fazer monologos pra pessoas ficarem se identificando e dizendo que "eu tambem ja senti isso", queria apenas expressar esse sentimento(ou nao sentimento) que parece ser decorrente da reflexao desmedida.

Dizem que os poetas são sensíveis, tive a oportunidade de ver uma professora declamar uma poesia e tive a oportunidade de não sentir nada, não consigo pegar a beleza da arte, não capto, isso ultrapassa a minha razao, isso pode dar argumento pra qualquer poeta calculista enxer de argumentos piegas por demais, creio que minha razao limita-se ao ato de pensar, refletir e não contempla o universo da sensibilidade provinda da poesia, da musica. A música ao menos cria o ambiente propício a reflexão, é um meio. Até mesmo a reflexão exagerada quebra um pouco a sensibilidade que a propria reflexao carrega.

Quero voltar a sentir, quero passar a semana voltado pra isso, eu quero meus sentimentos de volta, se não vou largar tudo e vou ser matemático e nunca mais vou falar de liberdade e espontaneidade, vou assumir minha natureza de robô, estava tentando ser um pseudo-filosofo cibernetico mas desse jeito, sem sentir, não vai dar.

Se fala tanto em poesia e música, devemos ouvir mais música e ler mais poesia, tá e daí ? A pessoa nasceu num ambiente técnico-utilitário, e vem querer fugir do seu berço, dizendo-se poeta ou artista ok, não parece um pouco negar um pedaço da sua existencia ? Não sei estou só especulando, porque eu não sinto nada quando alguem me declama uma poesia ou me toca uma música, eu olho com aquela cara sem graça e fico a pensar "sabe-se lá o que essas palavras querem dizer, será que eu tenho que falar algo ? será que é o caso de dizer algo pra mostrar a sintonia ? ou será que eu apenas faço um sorriso e fico tentando racionalizar o momento como estou fazendo agora, típico de um brasileiro com fortes influencias pragmaticas estadunidenses...

Será uma falha genética, erro no dna, cultura ?, o meu subconsciente não foi projetado para contemplação artistica, puramente estética do mundo, tudo bem assumo que nessa hora me deixei levar por essas correntes que dominam, ou ao menos andam juntos de nós toda hora, é só fechar os olhinhos que voce se justifica por qualquer dessas teorias de massas, onde a sua liberdade é apenas um desvio da estatística, apenas um fator indeterminado que as ciencias nçao contam... Então relativo a poesia e arte em geral me deixei levar, Sócrates ao invés de proclamar conhece-te a ti mesmo, poderia ter falado, contempla a estética a tua volta, talvez o conhecer pra ele seja uma experiencia estética tambem, estou querendo salva-lo das criticas de Nietzsche quanto ao racionalismo socrático ao dizer que o poeta era menos sábio que ele, Sócrates, pois nao admitia que nada sabia... dizia que sabia por intuiçao.

Talvez a vontade de me salvar sendo um pseudo-filosofo socrático atingiu seu auge, justamente quando eu estava começando a sonhar comigo mesmo tendo discussoes filosoficas, parece que estou regredindo, fui rápido de mais, queimei minhas asas, vamos lá de novo... poesia, música, arte, um dia talvez eu me entenda com voces até lá espero curioso...