sexta-feira, março 07, 2003

Andando hoje de manha fiquei pensando no blog que havia publicado e que talvez eu nao tivesse abordado certos problemas que podem fazer parecer que o mal realmente exista, são elas: estupro, assassinatos, roubos, guerras, odio, destruição, egoismo, ou seja, tudo que vai contra a vida, torturas, etc.

Penso que esses "males" existem por causa das proprias teorias em que a sociedade se estrutura, ou, aquilo que seus membros sao obrigados a seguir para fazer parte dessa sociedade. Admite-se alguma teoria politico-economica-social que atinge, influencia, todas as outras areas: educaçao, tecnologia, cultura, religiao, etc; Aqueles que nao se adaptam ao modelo adotado sentem-se excluidos do meio, rejeitados pela sociedade, nao se sentem "normais, e para se sentirem membros as vezes necessitam de roubar, matar, estuprar, pra cumprir, ou alcançar certos modelos impostos pela propria sociedade.

Alguem rouba porque quer sentir-se pertencente a comunidade, seja como possuidor de capital, como homem bem sucedido com relaçao a sua vida sexual, quer seja como bom pai que os filhos tenham orgulho, todos esses valores e muitos outros que atualmente a sociedade prega que os individuos tenham. Logico que existem patologias, doenças, as vezes tambem que a sociedade cria, com seu modelo de educaçao adotado, tipos de pedagogia entre muitos outros.

O que eu quero dizer é que a propria sociedade cria seus "pecados", seus "males", as estruturas, as teorias nas quais estao embasadas essa sociedade, nao reflete sobre como e o que um modelo social-politico-economico-cultural-educacional-filosofico pode fazer com as pessoas que estao dentro desse. As vezes nós mesmos estamos cultivando doenças em nossos "proximos", nos outros membros que participam da sociedade assim como nós.

As pessoas que vivem na sociedade nao sao boas nem más, apenas são, e tudo que querem é realizar, ou alcançar o modelo que foi criado de ser humano "feliz", e querem viver de acordo com isso sentindo-se bem, consigo e em relaçao aos outros. Nao alcançar esse objetivo gera o descontentamento, ou com o modelo, ou com as pessoas que alcançam, e é necessario a vingança, ou a revolta diante de tudo isso. Esse assunto é muito delicado, muito complexo, daria uma excelente tese de doutorado, pela amplitude, mas no momento fico por aqui, disculpem se pareci simples na exposiçao, mas quero me arriscar por veredas estranhas.

Quanto a mim me vejo entre ser um monje nao religoso (se é que isso é possivel), ou um pensador e me mudar pra uma montanha, ou uma cidade longingua, ou aceito o modelo social adotado, e procuro (como tenho feito desde a infancia, talvez por isso tantos traumas, uma certa angustia, descontentamento, raiva), e procuro me realizar, nao servindo ao capital, mas ao conhecimento e ao aprimoramento humano pela educaçao.

Será que existe mesmo o mal no mundo ? Diz as religioes que sim, as morais em geral, religiosas ou nao, tambem creem nesse mal. É estranho pensar num mundo criado por um deus que seja mal, entao o mundo nao é mau é o homem que é, mas o homem começou a ficar mau agora, a pouco tempo, desde quando desenvolveu a racionalidade, a consciencia de se saber como ser humano, porque até entao ele era apenas mais um animal como os outros que nao tinha consciencia daquilo que fazia (alias muitos de nós nao temos consciencia de quase nada do que fazemos), mas quanto tempo faz isso ? Dentro da historia do mundo, fazendo uma analogia, isso deve ter ocorrido a algumas horas atras.

Quando o homem começou a se organizar de acordo com códigos, para garantir alguns direitos aos que faziam parte dessa comunidade, ai que começou a se julgar quem estava certo ou errado, quem deveria ser punido e quem nao deveria, porque na natureza nao existe isso, o leao nao é malvado, nem o coelho é um pobre coitado mamifero fragil que será devorado pelo poderoso e opressor e autoritario leao, serial killer, psicotico, Nao ! Na natureza os animais se alinham sem precisar de codigos e conseguem coexistir mesmo assim. Isso leva-nos a perguntar, qual o problema com o homem ? Sentiu-se deprimido em ser mais um animalzinho e quis dominar todos os outros ? Achou que porque tinha a razao deveria reinar, ser a inteligencia do mundo ?

O homem brincando de criar codigos e leis, criou a moral e começou a julgar tudo e todos, criou um maldito código pra se organizar e hoje como eu já disse no outro post, foi escravizado por esse codigo. Começaram a surgir teorias como o pecado original ou entao de outras religioes que pregam que o homem veio ao mundo para ser testado, precisa dar o maximo de si, ou pra se purificar, ou pra merecer a vida eterna, ou pra se alinhas com o cosmo. Por que essa mania de achar que tem algo de errado e que nós seres superiores, pensantes, precisamos corrigir isso antes que seja tarde ! Engraçado, foi a partir dos codigos que conseguimos nos organizar e a crescer populacionalmente, gerando o desequilibrio na propria natureza.

Prosperamos enfim, crescemos populacionalmente, e cresceram os codigos e mais complexos foram ficando, ou seja, a raça humana foi ficando mais e mais complexa, tão complexa que chega a ser idiota, gera neuroses. Voce olha pra natureza as coisas sao simples, a vida nao é esse reino de provaçao, a vida tem valor por si própria, os animais desfrutam da vida apenas, agora nós seres superiores não, somos a razao do cosmos, sabemos de tudo, invetamos deuses, invetamos espiritos, invetamos um monte de teorias estranhas pra explicar a simplicidade que está na nossa frente e parece indecifravel, será que um olhar mais cuidadoso na natureza, nao revelaria a verdade tao procurada ?

Nao entendo o homem criar um codigo pra ele se sentir mal com relaçao a si proprio, inventar teorias pra preencher furos do tamanho do buraco negro, por exemplo a explicaçao do mal no mundo. Estou aqui tomando totalmente a interpretaçao que Nietzsche faz do mundo quando ele diz que porque ao invés do ser humano tentar alinhar o mundo no seu código de moral, ele, ser humano, nao tenta se alinhar com a lei da terra, da natureza, esse é o super homem, aquele que está totalmente alinhado com o mundo. Talvez eu nao concorde com esse super homem, nunca fui fã desse personagem (nem nos quadrinhos), mas penso que realmente o homem poderia buscar isso. Imagine voce brigando com seu filho ou filha por estar brincando com o sexo de uma criança do sexo oposto ou do mesmo sexo: "ei voce sua criança pedofila ! voce vai levar uma surra pro seu bem, voce está corrompida pelo mal, preciso expurgar isso de voce enquanto ainda é pequena", ou entao, uma criança brigando com a outra ou dando tapinhas nos pais ou irmaos: "criança maldita só quer saber de bater nos outros e fazer o mal as pessoas, olhe o sofrimento que voce está causando a esta familia com toda essa violencia ? Voce vai ser surrada pra aprender que nao se deve bater em ninguem nunca, porque assim foi nos ensinado".

Como tem problemas nessas teorias de mal, bem, moral, lei, nossa, e o pior que estou dentro dessa cultura e fui criado assim, sou um filho da cultura, já dizia Dostoievski, será que agora só me resta perceber e calar-me ? Bom estou estudando sobre ciencia cognitiva pra ver se descubro como dar um choque nos meus neuronios, ou entao atingir a parte do meu cerebro que faz a ponte entre percepção sensorial e o trabalho motor, chama-se essa ponte de mente, vamos ver se eu consigo.

quinta-feira, março 06, 2003

O medo pra mim é uma das piores sensações, se pra alguns motiva e ajuda a viver bem, pra mim me deixa preso e nao me faz andar. A sensação de desastre e de decepçao chega a dar calafrios.

Se por medo alguns entram em empregos, universidade, e cursos que nao fazem a minima ideia no que vai dar, já eu o medroso fico pensando antes an decepçao que tal aventura poderá me causar e me faz pensar duas vezes antes de me arriscar assim, talvez o sentimento de fracasso quando se faz presente algumas vezes acabamos achando que será sempre assim, e prefere-se nao agir, nem arriscar. Já as pessoas que enfrentam o medo e conseguem lidar com ele, é porque tem a falsa ilusao que irao se dar bem com ele, como já se deram outras vezes, cnseguiram superar algumas situaçoes dificies de panico, entao arriscam sem nem pensar nas consequencias, o medroso já pensa mais nas consequencias marcantes que já o marcaram profundamente.

Viver entao consiste em duas estradas enfrentar ou nao seus medos, alguns dirao que voce triunfou porque soube lidar com seus medos e por isso voce é um vencedor, voce sugou o maximo da vida, fez tudo que queria fazer, até cansou ! Nao tem mais com o que sonhar e hoje vive de lembranças e a sensaçao de morte pra voce pode ser o final de uma existencia magnifica e voce ou se congela, ou entao entra em alguma religiao que prometa vida eterna. Bom se voce nao enfrenta seus medos, tudo bem, nao vai pra frente, nao faz muita coisa que queria fazer, vive com vontade de morrer, de sair daqui, uma vida eterna pra voce seria o inferno, bom ao menos voce tem com o que sonhar: com a vida que nao teve, talvez seja melhor tê-la só em sonho do que propriamente vivê-la, porque voce olha pras linhas um pouco acima e fica deprimido com a vida ao maximo.

A gente escolhe o que é melhor, dependendo da escolha vai ser julgado pelos outros a vida toda, no fundo no fundo é algo de tomar uma decisao e conseguir nao ligar pra o que mais ninguem pensa, porque afinal voce está sozinho no mundo, e se tiver algum julgamento final algum dia nao será a sociedade que irá falar por voce, nem vai dar pra botar a culpa na sociedade (bom isso tudo pensando na possibilidade de um deus que seja como um codigo moral metafisico, o que eu dispenso).

Como o medo do fracasso pode ser tao forte, o medo em si nao existe, mas em relaçao aos outros, no fundo é o fracasso perante os outros, a sociedade, voltamos de novo a discussao passada onde fazer as coisas pra voce mesmo, por voce, arriscar por conta propria vale menos que a opiniao dos outros sobre voce, engraçado que ninguem vive por ninguem, mas o peso do julgamento alheio pode fazer voce nao sair de casa, nao fazer nada, ou seja, voce aprende, se tiver dentro de uma religiao, que o proximo é mais importante que voce mesmo, que o todo vale mais que a parte, e ai vive por ai que nem um idiota, seguindo as regrinhas sociais do grupinho que frequenta. E pra se libertar disso agora como fazemos ? Isso só é uma constataçao ? Me sinto preso numa estrutura construida e que as reflexoes por mais profundas que pareçam, parece que só ficam na superficie e que nao geram nenhum tipo de atitude difeente ! Um exemplo só pra ilustrar o pensamento, por que voce nao se mata ? Imagine o sofrimento que causará aos outros, é ridicula essa resposta se quem está sofrendo é voce e nao os outros, tudo bem que eles estao conectados, mas nao significa estar preso, dependente !

A sociedade se estrutura por bases estranhas de interdependencia entre os membros dessa, faz a gente pensar que sem outro nao seriamos capazes de viver, nem sobreviver, precisamos uns dos outros pra viver, é isso que nos dizem a vida toda. Nós criamos a política, o dinheiro, a moral, a mídia e hoje somos escravos de todas nossas criaçoes, grande progresso, realmente somos varios pedacinhos condionados e presos e escravizados por mecanismos muito sutis, parece que esquecemos as bases das nossas "criaçoes" (segundo a religiao cristã só deus, cria).

Já que somos tao dependentes, pra viver, da sociedade espero que a sociedade esteja preocupada com as minhas angustias pessoais, meus medos, minhas dificuldades, ah sim ela está preocupada vejam só: me dá psicologos de graça, um padre quem sabe pra mim me arrepender de sentir medo e voltar pro deus verdadeiro que acaba com os medos todos porque ele é a verdade que conforta, ou entao a sociedade me dá medicamentos pra mim comprar e me acalmar, ou quem sabe ela deixa os traficantes traficarem tranquilos por ai, porque as drogas aliviam a tensao do povo do morro. Do jeito que estou me referindo a ela, a sociedade parece que virou deus ou algo assim, fora dela parece que voce nao vive, sem ela tambem nao, e se não é pra ela, nao tem sentido viver, que merda é essa, vou me tornar o profeta do novo milenio, vou fazer juizo ao meu nome de profeta, vou dar uma de Nietzsche.

Já estou cansado desse modelo pré-determinado, e o pior que eu estar cansado nao significa nada porque eu sou só zumbi, um morto-vivo, achando que sou livre, achando que consigo pensar em algo e no mesmo momento começar a viver e a sentir e a me posicionar de acordo com essa nova linha de raciocinio que decidi seguir a partir de agora, mas parece que o subconsciente (se é que ele existe) parece que me diz: "calma lá garoto, é só mais uma reflexao pirada, voce está na idade disso mesmo, mas nao espere que eu vá me adaptar isso, eu estou nesse corpo a mais de duas decadas e agora que voce vem reclamar sua autonomia, só daqui a mais duas decadas quem sabe, até lá, conforme-se". Na expectativa eu fico ai, com a carcaça andando pra lá e pra cá ...

terça-feira, março 04, 2003

Disanimo é algo que está sempre constante na vida, na minha ao menos, parece as vezes que chega a ponto de voce querer dizer que a vida é isso ai mesmo, dor e sofrimento, e se voce nao consegue aguentar essas afirmaçoes entao que deixe de viver ou vá entrar em alguma religiao e tentar mudar o mundo, ou seja, acaba com toda a dor e tristeza que nele existe.

Tu fica tentando se motivar com objetivos a curto alcance, porque parece que os objetivos a longo alcance nao tem como busca-los: "estou vivendo esperando o reino dos céus" ou entao "quero viver minha vida toda me esforçando e trabalhando pra um dia ter o que é meu, ou deixar um bom legado pros meus filhos", que tipo de motivaçao é essa, poxa tem uma vida toda pela frente, se fosse buscar um objetivo assim eu me matava logo, como fazer pra vivendo a vida aqui motivado, empolgado, com vontade, fazendo as coisas com gosto pelo gosto de aprender e querer se aperfeiçoar sempre mais (sei la o que isso significa).

Estou tentando colocar na minha vida o objetivo de seguir vivendo por curiosidade, de me ver mais velho, de aprender cada dia um pouco mais com cada pequena experiencia, porque ao olhar pra tras e pra frente as coisas vao ganhando uma cor diferente, talvez quando chegar aos 70 tudo fique preto e branco, mas ok, será bom assim mesmo. Esse objetivo de viver por curiosidade é muito duro, porque nao tem nenhuma intençao a nao ser de buscar o conhecimento por ele proprio, sei la nao sei como que é isso.

Esse post que estou editando é mais uma demonstraçao da fraqueza do cara em continuar a buscar algo por ela propria, sendo que a vida inteira aprendeu que voce faz algo em troca ou visando algo e nao por ela mesmo, e agora quando voce cresce percebe que está conhecendo por conhecer e pra nada mais, ou entao voce está fazendo por voce mesmo e nao pra agradar ninguem, porque voce gosta de ler, gosta de voce, por isso voce faz isso, mas nao parece que isso nao existe, se nao existir o outro nao existe motivo pelo qual fazer uma açao, é assim que me sinto, faço e vivo em funçao do proximo, foi isso que me ensinou a religiao, hoje em dia sou escravo do proximo e nao faço nada por mim mesmo, nao sei quem sou nem do que gosto nem o que quero e nem qual o por quê de estar vivo, mas sei que estou, devo estar por ai girando porque os outros se sentem bem com isso e quem sabe eu fui condicionado a ficar contente ao agradar o proximo, mas quando vou saber que estou a me agradar, talvez nunca, viver mais penoso que esse é possivel ?

Peço disculpas a quem lê esse blog porque gosta de refletir, mas dessa vez escrevi a minha fraqueza maior, porque quem sabe daqui a uns anos eu leia isso e veja ou possa me comparar ...