terça-feira, junho 22, 2004

Educação de novo, infelizmente

Morte aos educadores, a escola:

A situação da educação é delicada, quero começar esse texto fornecendo um dado: "Desde 1970, quando os brasileiros eram "90 milhões em ação" (ou, mais exatamente, 93.139.037, segundo o Censo daquele ano) e a seleção brasileira conseguiu o tricampeonato mundial de futebol, a população do País cresceu 82%. Ao longo do século XX, ela tornou-se quase dez vezes maior: o Censo de 1900 contou mais de 17.438.434 de residentes. Na primeira metade do século, a população triplicou (51.941.767 residentes em 1950) e, na segunda metade, mais que triplicou. Em 2000, já éramos 169.590.693 pessoas";

Teria que consultar também em quanto a arrecadação do imposto de renda cresceu, se cresceu de acordo com o crescimento populacional. De acordo com certas fontes de dados seriam 40 milhões os que tem fome no nosso país, isso equivaleria a duas vezes a população de 1900. Estou apresentanto esses dados porque antigamente, não há muito tempo, na década de 60 e 70 em que meus pais, tios, estudaram, havia um tipo de educação chamada de formal que conseguia até ser mais eficiente que a educação que vemos hoje, alguém pode defender que é porque na época haveria mais emprego, ou seja, os alunos tinha um objetivo a que visar, ou que haveria menos gente e isso torna as coisas mais fáceis, não havia tantos precipícios que separavam a educação pública da privada, era outra realidade, um pouco mais simples.

Mas não adianta, o modelo de escola é todo errado, os pedagogos só querem teorizar em cima de conceitinhos mixurucas, não sei se eles querem ser filósofos, ou o quê. Existe um problema grave emergencial com a nossa educação e eles continuam com um pedagogês (dialeto dos pedagogos) irritante e não resolvem os problemas reais. As crianças continuam não sabendo ler nem escrever, e os pedagogos continuam 'filosofando', discutindo conceitos abstratos. Aqui em Florianópolis não vemos uma escola decente de ensino (talvez escolas de pedagogia alternativa: uma ou duas), é assustador isso. Os professores formados na universidade aprendem meia dúzia de verdades e voltam para o ensino médio querendo ser profetas e reproduzem os modelos de educação para o trabalho fornecido desde a época da revolução industrial. Aliás acho que nem o educar para o trabalho eles andam fazendo.

A escola repente o modelo da indústria, acho boa essa analogia, é um lugar onde todos devem ir todos os dias, durante um certo tempo, podem mover-se de acordo com as ordens do professor e dos sinos (sinais), devem aprender as mesmas coisas e provar ter esse conhecimento, são tratados todos como iguais, devem aprender o que os outros aprendem no mesmo tempo. A escola forma para o trabalho, portanto a escola já ela é uma pequena empresa, indústria que reproduz esse modelo, para que os alunos já vão aprendendo como é a realidade numa empresa. Talvez algum administrador leia esse texto e sinta-se ofendido por eu demonizar a escola por ela ser como uma empresa, seria interessante, ao menos eu veria algo diferente.

Vou tentar sintetizar algumas idéias: aumento populacional descontrolado, arrecadação não correspondente a quantidade de pessoas, má distribuição de renda, falta de trabalho, separação radical entre escola pública e escola privada, pedagogos ao invés de buscar soluções práticas ficam no nível teórico, reprodução do modelo empresa-indústria na escola tratando os alunos como mini-trabalhadores, ou trabalhadores a caminho (não sei do quê, se: primeiro não há emprego e segundo os professores não educam para o trabalho).

O problema grave do pedagogês é que os pedagogos(as) tornam tudo teórico-abstrato e ai implementam seus sonhos, suas teses de doutorado, mestrado nas escolas e cometem as maiores aberrações, não se vê bons projetos de educação, será que algum dia as crianças se interessaram pela leitura, pela escrita? O que está acontecendo? Será é porque atualmente temos mais televisões, video-games, computadores e isso chama maior atenção e é de mais fácil contato do que um livro? E em décadas atrás nem televisores tínhamos? Nossa curiosidade é reduzida ao que passa no Discovery Channel? Que bela merda.

Não aceito cair numa descrença total com relação a escola, ainda dá pra pensar algum projeto decente, dá sim, mas temos que nos dedicar mais a chegar nesse objetivo. Li ontem um artigo que falava que é necessário às crianças se por os problemas, as crianças vão para escola procurar aprender saberes já dados historicamente, tudo na escola é aula de história, não há lugar para nada novo, idéias novas, problemas novos, as crianças apenas vêem como se respondeu de determinadas maneiras em determinadas áreas certos problemas . As crianças nem os problemas postos pelos cientistas antigos, matemáticos, filósofos, nem a isso eles têm acesso, eles não sabem por que para Platão era importante compreender o mundo das idéias daquele jeito e não de outro, só um exemplo pra tornar o texto mais interessante, na época de Aristóteles já havia visões de mundo que defendiam que a terra girava em torno do sol, mas o que prevaleceu foi a visão de que era o sol que girava em torno da terra e essa visão foi formulada por Ptlomeu e prevaleceu até o renascimento, vejam só, uma maneira de responder a certas questões que é mais forte que a empiria da ciência moderna, isso é extremamente interessante, isso mostra a força de explicação dos 'mundos' antigos. Por que é negado as crianças a capacidade de conhecer? Por que elas só tem que estudar uma história das ciências toda fragmentada, sem explicações, sem colocação dos problemas, por que fazem isso com as nossas crianças? Malditos! Pedagogos imundos!

Tem que haver um problema, tem que haver a falta do conhecimento, a colocação de perguntas que despertem o aprender, a ponto do aluno ter que ocorrer atrás, ficar incomodado, procurar responder a uma problematização, dessa maneira a gente incomoda, mexe com o aluno, desperta a curiosidade, move o aluno aos livros e depois devolta para a sala, para a discussão, para a troca, reconstrução de saberes, isso é importante. A sociedade do consumo acaba com a vontade de conhecer, por que ela faz isso, que bosta, sociedade capitalista maldita, temos prazer a medida que temos dinheiro, em nome disso renunciamos a nossa humanidade, nossa vontade intrinseca de conhecer, aliás substituímo-la por uma vontade de obter coisas, comprar, adquirir objetos, coisa cretina! Problema da escola é grave, tem que lidar com o que a sociedade anda fazendo, como as pessoas andam se movendo no mundo e ao invés dela, escola, apontar outros rumos ela procura manter a ordem social vigente, do consumo. A escola ainda como indústria quer que todos aprendam a uma série determinada de coisas durante um certo período de tempo, isso condiciona a liberdade de trabalhar peojetos, de problematizar e construir com os alunos, nas aulas de Filosofia menos porque se tem maior flexibilidade para trabalhar os temas, os problemas, os autores. Até certo ponto também, porque o departamento de Filosofia aqui da UFSC quer por no vestibular questões de Filosofia e isso já condiciona de novo o trabalho dos professores.

O terror está instituído, a escola é uma bosta, os professores mal formados, mal pagos, desvalorizados, ridicularizados, os pedagogos falando sozinhos, ou vêem a realidade e fecham os olhos e querem falar de amor, solierdariedade, e acabam não fazendo nada, ou então vêem demais a merda como o mundo foi constituído e ficam estáticos, paralisados, sem saber por onde começar.