quarta-feira, maio 07, 2003

Será que o centro está fora ?

Inicio esse texto com essa pergunta porque ela meio que perpassa todos os outros textos que se encontram no blog. É o problema acho que da propria realizaçao humana pessoal e individual minha, procurar colocar o centro disso fora de mim, seja fazendo um curso universitário, seja arranjando um trabalho, ou alguma porcaria material(tudo bem que a vida tambem dependa de roupas, comida, entre outras coisas basicas para o viver)- mas o material vai em em outro sentido. Eu quero dizer que o sentido não está fora e sim dentro, o sentido não está em se realizar profisisonalmente, sexualmente, materialmente, isso eu vejo como coisas terciárias, e quaternarias, porque a vida deve bastar em si propria e essas coisas talvez possam complementar algo que está dentro, mas talvez, essas coisas nao podem e nao devem ser a base da realizaçao pessoal e individual de cada. Achar que adaptar-se socialmente é realizar-se é idiotice, mesmo porque eu penso que a minha essencia humana tem um pouco de sociedade, foi muito determinada por essa mas nao se reduz a essa e não se realiza nessa.

O problema é sempre como encontrar-se em si mesmo, como tirar toda essa crosta de sociedade, cultura, educaçao, que há cubrindo o ser ser no sentido mais profundo e a partir disso sentir-se na sua essencia humana, acho que falar "conhece-te a ti mesmo" é de uma sapiencia incrivel, talvez seja realmente um ideal a se buscar, mas eu um tecnico moderna pragmatico que quer ver utilidade em tudo até no amor e na amizade (as coisas mais importantes e que deviam bastar-se em si proprias, ou seja, nao sao dao campo no interesse e da necessidade) - obviamente que ao procurar utilidade nesses eu os mato !, mas continuando, eu um tecnico moderno por mais que tente e procure acho que talvez nunca eu me encontre nesse oceano que cubriu o meu ser, eu nao sei se o que a existencia acabou por agregar ao meu ser agora realmente me redefine como tal, eu acredito que nao, que apesar de todo esse crepusculo que me envolve há ainda algo de profundo que escapa até de mim mesmo, acho que aqui estou indo muito na linha da fenomenologia, Heidegger e cia.

Eu sei que vou me formar talvez, me casar, ter filhos, adquirir bens, uteis e inuteis, vou ter talvez um trabalho, vou adentrar a vida social, vou me tornar o ser social, realizar segundo Aristoteles uma das condiçoes humanas(ser um ser politico), vou viver a vida como uma pessoa qualquer tendo meus flashs de liberdade ao pensar que poderia jogar tudo isso pra cima e ir em busca do que é mais profundo em mim e que talvez, se é que existe uma coisa chamada felicidade, é no profundo que ela está, dizia uma vez um mito que eu li, permitam-me citá-lo abaixo:

Conta-se que os Deuses da Grécia Antiga, temerosos de que os homens descobrissem seu proprio "potencial" e ciumentos que, assim, pudessem chegar até eles, realizaram uma longa reuniao para decidirem a maneira mais concreta de ocultar aos homens esse seu potencial.
Várias foram as propostas.
Houve quem pensou em esconder o potencial do homem nos abismos mais imprescutáveis dos oceanos, mas foi lembrado que, no futuro, o homem penetraria o fundo dos mares.
Apresentou-se quem propôs ocultar o "potencial" (disculpe usar essa palavra potencial eu nao acho a mais adequada aqui no contexto da minha reflexao) humano nas mais altas montanas da Terra, mas tal proposta não foi aceita, porque o homem, não muito distante, as escalaria.
Outro sugeriu esconder tal riqueza humana na Lua, mas frisou-se que o homem do futuro iria até lá.
Por fim, todos aceitaram uma proposta estranha: esconder o potencial humano dentro do próprio homem. Disseram os Deuses: "o homem é tão distraído e tão voltado para fora de si, que nunca pensará em encontrar seu potencial no íntimo do seu ser".

Essa historinha resume o meu sentindo diante de mim mesmo e da impossibilidade de me encontrar no sentido mais profundo do termo, nao ache que seja a realizaçao do meu "potencial" de ser humano, mas sim de realizaçao pessoal, humana.

Um exemplo disso que foi exposto até agora seria como um professor meu uma vez colocou: "o centro nao está fora mais dentro", o exemplo que ele usou foi: "os professores reclamam de salarios, de más condiçoes, disso e daquilo, mas será que isso realmente tem a ver com o ser um bom professor, dar uma boa aula? ", porque se não há a vontade do proprio professor dentro dele em ser um bom professor, nao serao salarios elevados, nem doutorados e pós-doutorados que darao a ele essa condiçao. Da mesma forma o homem, nao serao carros, mulheres, trabalhos, amigos, que darao a ele a condiçao de ser um humano realizado ou feliz, isso se nota muito em filmes: "sou feliz, pois tenho um sitio, carros, filhos que me amam, uma mulher bonita, comida nao me falta" e grande merda isso, pode ter tudo isso, mas nao ter se encontrado em profundidade, nao conhecido-se a si mesmo !

A minha frustraçao pessoal está em ao perceber tudo isso esquecer tudo, e notar que é segunda feira e que eu preciso estudar pra prova, ou lembrar tambem que preciso trabalhar, e outras idiotices sociais que vão me deixando cada vez mais e mais longe, às vezes eu esqueço da reflexao e tento me adaptar ao convivio social por ele mesmo, acho que é pior ainda, ser um humano não é facil. Eu não sei como eu consigo viver, eu aceitei alguma premissa estranha na minha infancia, que pos em mim uma crença: que é preciso todo dia fazer alguma coisa pra depois de um tempo "colher os frutos", e com essa crença eu vivo até o dia que eu cansar...

domingo, maio 04, 2003

Como ser um ser pensante numa sociedade de caracteristicas pragmáticas, técnicas ? - ou seja, onde aquilo que voce faz tenha que ser de carater util, que sirva pra alguma coisa, ou que produza algo ...

Talvez quando se leia um livro, uma poesia, ou se saia pra dar uma volta se está proporcionando a si mesmo um momento agradavel, um bom sentimento com relaçao a si mesmo, nao sei se um pragmatico neste caso iria interpretar isso como uma maluquice ou uma perda de tempo ... Me sinto mal quando fico em casa um dia inteiro sem fazer absolutamente nada de "util" a quem quer que seja, mas penso que seja de uam utilidade sem limite passar um tempo consigo, sozinho, pensando, refletindo, mas surge em mim o sentimento de inutilidade, "oh nao estou sendo produtivo, preciso correr, fazer algo", nao gosto de sentimento de insatisfaçao comigo mesmo por aproveitar o tempo livre, descansando, será que nao sei desfrutar de um momento sozinho sem me achar um ameba imrpodutiva ?

Voce vê nos filmes enlatados estadunidenses como sao tratados aqueles que bancam os reflexivos, aqueles que pensam de maneira diferente, ou de maneira até romantica às vezes, eu vejo que sao idiotizados, sao ridiculazados, por algum preconceito com relaçao a uma mentalidade europeia que talvez prezasse por desfrutar de momentos sem se importar muito com a produtividade tecnica, ou social. Voce lê alguns livros de escritores europeus e percebe quanto tempo é destinado pra longas palestras, discussoes filosoficas entre os personagens, a importancia e o valor que se dá pra discussao, pra reflexao.

Até estava perguntando pra minha mãe que está se formando na universidade no curso de serviço social, eu disse a ela, mãe voce se acha menos por nao ter um diploma ? Voce acha que só o reconhecimento da academia que voce sabe só ai que voce vai se sentir bem com relaçao a si mesma ? Acho estranho inclusive eu mesmo, com a minha idade de 22 anos preocupado com a valorizaçao que será me dada por uma academia de pessoas. Me deem uma nota, um numero, me deem um trofeu se eu for o melhor aluno, me paguem se eu for inteligente e conseguir uma bolsa, me deem elogios, sorrisos, pais digam que me amam e têm orgulho de mim, meninas fiquem comigo afinal nao sou uma ameba idiota improdutiva, tenho que produzir algo... Realmente somos idiotas, eu principalmente, que sinto isso na pele todo dia e sou um tecnico querendo ser filosofo, de acordo com a minha comparaçao um filho dos estadunidenses(pragmatico, tencico, util) querendo buscar suas raizes indigenas e europeias(reflexivas, filosoficas).

Nao sei o que estou aprendendo nessa academia maldita, se estou aprendendo a estudar porque amo, e gosto e porque isso vale a pena pra mim e é importante pra minha essencia humana, pra mim me conhecer cada vez mais, me sentir mais vivo, ou apenas estou indo na onda de sorrisos de professores, titulaçoes, e presentes dos pais, vós, tios, ei pai eu mereço um carro ganhei um diploma pra voce nao morrer frustrado ! Eu quero gostar do conhecimento por si, mas sou apenas um idiota esperando que alguem me dê um beijo de vitoria quando eu terminar o curso, esperando quatro anos pra poder chorar meia hora de orgulho falso de mim mesmo por ter me enganado por quatro anos, sentir que sou um cretino que nada disso me interessa, nao foi isso que os estados unidos pela televisao me ensinaram, se eu for um produto da sociedade estou justifado pela minha educaçao, agora se eu quiser assumir a minha condiçao de ser humano livre preciso fazer algo com relaçao a isso, isso vai demandar muito esforço de mim mesmo ... afinal alguem me ensina algo sobre querer as coisas por si mesmas ? acho que nessa nem os cristaos poderao me ajudar ... essa reflexao se um dia acabar e eu acho que vou finalmente sentir que estou começando a viver...